Coronavírus pode comprometer exportações brasileiras

Escassez de contêineres para carga refrigerada preocupa transportadores. Equipamentos ainda estão retidos na China

  Aos poucos, começa a ficar claro o quanto o a epidemia do novo coronavírus (Covid-19) afeta a atividade portuária brasileira, com impacto nas importações e nas exportações. A frequência de chegada de navios chineses foi visivelmente afetada e já provoca o desabastecimento em hubs voltados para montagem de produtos eletrônicos, como a Zona Franca de Manaus. Outro efeito colateral, que deve ficar evidente na segunda quinzena do mês, é a escassez de contêineres. Em seu relatório mais recente, a Maersk - maior empresa de logística integrada de contêineres do mundo - aponta que a China está em fase de recuperação e opera com 80% da capacidade industrial. No entanto, os dias parados por conta da quarentena provocaram atraso nos principais terminais do país, localizados em Xangai, Xingang, Tanjin e Ningbo. No informe, a empresa confirma que alguns terminais estão cobrando de seus clientes “taxa de congestionamento” para carga refrigerada desde o final de fevereiro. Exportadores de frutas, vegetais e carne congelada são aconselhados a buscar portos alternativos. “A gente calcula que as chegadas da China caíram uns 30%. Se perdurar a situação do vírus, a queda pode ser de 45% a 50%”, calcula José Roque, diretor-executivo da Sindamar (Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado São Paulo). A preocupação de Roque, contudo, é com a escassez de contêineres. O setor opera mundialmente com uma lógica de balanceamento: para cada equipamento que dá entrada, outro deve deixar o porto. “E, ultimamente, para cada dois que chegam, damos saída em cinco”, confirma. “A carga de exportação, por enquanto, não está sendo afetada”, tranquiliza. “Mas a retenção do equipamento na China por falta de desembaraço alcança os equipamentos especiais. Estamos falando de contêineres tipo reefer (refrigerado), open top (teto aberto) e flat rack (sem teto e paredes laterais, para cargas maiores)”, detalha. Por enquanto, a situação dos contêineres dry (para carga seca) não preocupa, pois a oferta desse tipo de caixa metálica é bem maior. O escoamento da próxima safra de frutas vindas do Nordeste será um teste importante e dirá se a situação foi normalizada. De acordo com a Maersk, o coronavírus é responsável pelo desempenho fraco do comércio global de contêineres no primeiro trimestre. Com relação ao Brasil, a empresa mantém a previsão de crescimento modesto. “As importações brasileiras começaram bem em 2020, mas estão desacelerando, enquanto as exportações ainda patinam, já que a colheita de soja ainda deslanchará”, aponta o relatório. Segundo Matias Concha, diretor de Produto da Maersk para a Costa Leste da América do Sul, um fator que pode amenizar as perdas brasileiras é a desvalorização do real frente ao dólar. “Com o enfraquecimento da moeda local, há oportunidade de aumentar a competitividade e ajudar os exportadores a encontrarem maneiras mais inteligentes e baratas de enviar mercadorias”, analisa.   Fonte: CNT
  • Data: 13/03/2020
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