Morre Raul Randon, fundador das Empresas Randon
Raul Anselmo Randon considerava que parar de trabalhar era o pior que podia acontecer a uma pessoa. O empresário que iniciou na labuta aos 14 anos, na pequena ferraria do pai, imaginava que viveria pelo menos até os cem. Foi o que declarou entrevista à Zero Hora em março de 2014. Não foi preciso completar centenário de vida. Com sete décadas de trabalho incansável, o homem que transformou o próprio sobrenome em sinônimo da Serra mais pulsante em sua vocação industrial partiu às 21h deste 3 de março de 2018, aos 88 anos. Randon morreu em São Paulo, no Hospital Albert Einstein, onde foi internado ainda em dezembro, para implantar um pino entre o quadril e o fêmur. Uma série de complicações decorreram desde então, e seu Raul não resistiu. Ele será para sempre lembrado como um Midas, pois cada produto que passou pelas suas mãos é sucesso pela qualidade. Raul deixa 10 netos e um bisneto. Leia mais Raul Randon é homenageado pelo aniversário de 88 anos "Um dos caxienses mais ilustres da história", diz nota da Câmara de Vereadores Coração frágil e complicações de cirurgia causaram a morte de Raul Randon Catarinense de Tangará, foi em Caxias do Sul que o neto de imigrantes italianos ergueu um império que se mistura com o próprio desenvolvimento do segundo maior polo metalmecânico do Brasil. À frente das Empresas Randon, que tem origem na pequena oficina mecânica que fundou em sociedade com o irmão Hercílio, em 1949, e se expandiu para uma das maiores fabricantes de carrocerias de caminhão, autopeças e implementos agrícolas do planeta, o filho de Abramo e Elisabetha Randon construiu uma trajetória marcada pelo empreendedorismo, pela responsabilidade social e pela veia visionária. Baseava a confiança no sucesso de seus negócios naquilo que se tornou uma de suas máximas: o transporte e a comida são as duas coisas que nunca vão terminar. Foi assim que expandiu seu olhar para o agronegócio e para a gastronomia, conforme os filhos foram assumindo o controle das empresas da companhia. Em duas décadas, o braço agropecuário das empresas Randon consolidou sete marcas no mercado, o que se pode compreender na frase que Randon cunhou ao associar seus produtos alimentícios aos restaurantes do Grupo DiPaolo, em 2016: a qualidade sempre vence. Leia mais Como foi o lançamento do documentário sobre o empresário Raul Randon Raul Randon, o empresário que virou filme Para além do empresário bilionário que emprega mais de 8 mil funcionários, o homem Raul Randon gostava da vida e se dedicava a suas paixões, muitas vezes, transformando-as em negócios. Das viagens anuais à Itália, por exemplo, abraçou a ideia de um amigo de produzir um queijo inédito na América Latina, o grana padano. Para comemorar as bodas de ouro com a mulher, Nilva, em 2006, produziu com a vinícola Miolo, da qual se tornou sócio, o vinho especial que leva as suas iniciais, RAR. Na fazenda em Vacaria, onde gostava de descansar e jogar cartas com os amigos, deu início à plantação de macieiras que o tornou o quinto maior produtor e exportador da fruta no Brasil, com 1,1 mil hectares plantados. Legado Randon é um dos motores da economia de Caxias do Sul Foi a incursão na agropecuária que rendeu a Raul uma das histórias com as quais ele mais se divertia e gostava de contar, sendo muitas vezes convidado a relembrar em entrevistas. Após obter a licença para produzir o queijo tipo grana no Brasil, o empresário foi atrás de todo o equipamento mais sofisticado para iniciar os trabalhos. Mas não era o suficiente. Mesmo as vacas precisaram ser importadas. E foi assim que, num certo dia de 1996, o público que aguardava pelo desembarque de passageiros no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, assistiu à chegada, em dois boeings, de 130 novilhas holandesas trazidas dos Estados Unidos. Aliás, poucas coisas pareciam deixar Raul mais orgulhoso do que o sucesso com a produção do Gran Formaggio, nome dado ao queijo premium. Ao mesmo tempo cativante e identificada com a Serra, onde sempre morou, a figura de Raul Randon fascina pela ascensão do ajudante de ferreiro que em pouco mais de meio século de trabalho ingressou na lista de bilionários da revista Forbes Brasil, com fortuna estimada em R$ 1,27 bilhão em 2013. Dos mais de cem títulos e honrarias que recebeu em vida, ter sido apenas o segundo brasileiro (o primeiro foi Jorge Amado) laureado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Pádua, uma das mais antigas e importantes da Itália, tenha sido a mais importante. A honraria foi concedida em 2017. Sua trajetória foi contada em filme, livros e dezenas de entrevistas e perfis jornalísticos na imprensa de todo o país. Desta forma, o público pôde conhecer o homem que nadava três vezes por semana e o pai exigente de David, Roseli, Alexandre, Maurien e Daniel e avô dedicado dos netos. Em uma das últimas entrevistas concedidas ao Pioneiro, ao lamentar a morte do empresário Paulo Bellini, em junho do ano passado, Raul Randon disse que o fundador e presidente emérito da Marcopolo ficaria para sempre na história de Caxias do Sul, por ser exemplo de empreendedorismo e por nunca ter parado de trabalhar. São razões semelhantes que asseguram ao personagem que melhor simboliza a Serra que deu certo uma página central na nossa história. Fonte: Pioneiro Foto: Andréa Graiz / Agencia RBS
  • Data: 04/03/2018
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